O dia não começou muito bom, aquele 26 de janeiro já teve stress por causa do trânsito e por causa também do meu pai, que acaba com a calma de qualquer pessoa, até mesmo com a minha. E neste dia fomos em cima da hora para a rodoviária, eu já ia me exasperando no caminho por conta do modo como meu pai dirige, buzinando desnecessariamente e xingando todo mundo. Chegamos na rodoviária e já não havia mais passagem para a Bahia. Só duas empresas fazem a rota diária, eu acho. Daí ele ainda tentou com outra, mais cara, que só sairia às 7 da noite, mas também não deu certo. Ainda ficamos lá esperando mais um tempo, até que o cara da primeira empresa nos disse que havia surgido uma vaga. Massa! Compramos a passagem e eu embarquei com minha mala, minha mochila e meu violão.
A viagem começou tranquila, com uma chuva pela tarde, eu estava na janela e lendo um livro de contos. Mas... à noite, em Picos, dois irmãos, uma menina e um cara, vieram até mim pedir a cadeira onde eu estava sentado. Falaram da numeração e coisa e tal, e eu vi que realmente a minha não era aquela, e sim a primeira. Puta azar, detesto sentar nas primeiras poltronas, mas diante da insistência dos dois, cedi e fui lá ver se a primeira poltrona estava vaga, e nem estava... A que estava vaga era a do corredor, a 2, mas como eu tenho raiva de quem faz caso pelo número das poltronas, não fiz e fiquei mesmo no corredor. Puto.
Mas tudo bem, a merda já estava feita mesmo, tentei me acomodar melhor e dormir. Deu três horas da manhã e eu não consegui tirar nem mesmo um cochilo de 5 minutos, e ainda ficava com dormência nos pés. Enquanto eu me conformava com a idéia de ir a viagem inteira sem dormir (eu nunca durmo mesmo) o ônibus parou. Já tínhamos passado de Juazeiro, na Bahia, e estávamos chegando perto de Senhor do Bonfim. O ônibus ficou parado por uns 10 minutos sem que ninguém dentro dele soubesse o que estava acontecendo à frente, alguns falavam em acidente na estrada, até que um menino falou em assalto. Eu já fiquei mais desperto, tentando ver logo o que era aquilo, e todos escutaram uns barulhos estranhos perto da porta.
Foi quando o motorista abriu a porta e, já com as mãos na cabeça, disse que todos deviam descer. Eu, que estava na poltrona mais próxima dele, já olhei para a frente, e vi logo uma arma prateada apontando na minha direção, não exatamente para mim, mas a mira vinha certinha. Daí veio aquele pensamento comum: FUDEU, VÉI! Minha primeira preocupação foi o violão, pensei em escondê-lo ou levá-lo para a parte de trás do ônibus, mas o pessoal já tava vindo, era impossível. Já é o segundo que tenho, o primeiro foi roubado quando bandidos invadiram a minha casa, eu nem estava nela. Pois bem, deixei o violão na poltrona mesmo e torci para que ele não fosse roubado, me levantei, peguei duas notas de 50 reais que levava no bolso e rapidamente coloquei na cueca. Brasileiro se garante nessas coisas... rs. E desci.
Os bandidos eram três, e dois já ficavam logo na porta, enquanto o outro, o da arma prateada, cuidava do motorista, que já havia inclusive levado uns socos nas costas. Quando passei por eles, comecei a revirar os bolsos, com as mãos tremendo, e só saía comprovante de bagagem, passagem, e umas moedas, além do celular. Quando mostrei as moedas, o assaltante que estava ao meu lado disse: "Será preciso que eu vou ter que matar um hoje, mesmo?".
GELEI, mésti, e disse a ele que meu dinheiro estava mesmo era na mochila, mas ele nem prestou atenção, e mesmo assim não dava pra eu voltar, já que o pessoal vinha descendo. Engraçado é que ele não quis o celular, mas se tivesse quisto, eu é que me sentiria o bandido da história. Aquela bomba... rsrs. Mas voltando, me afastei com as mãos na cabeça e fui para junto do pessoal. Umas 15 pessoas já tinham descido. O lugar era um povoado à beira da estrada, iluminado, e com os trilhos do trem passando entre a estrada e as casas. Alguns passageiros passaram dos trilhos e caminharam discretamente para as casas, mas aí o assaltante os viu e ordenou que todo mundo voltasse.
Ficamos todos lá, morrendo de medo de que algum deles se revoltasse e desse um tiro pro nosso rumo, mas felizmente a única atitude violenta foi a dos socos no motorista. A ação foi rápida, eles não nos revistaram nem revistaram as bagagens, queriam apenas dinheiro, e em menos de 10 minutos já podíamos voltar para o ônibus. Eles devem ter ido assaltar os caminhoneiros que já se enfileiravam no outro lado da estrada. E antes do nosso ônibus, já haviam assaltado um de turismo que ia à frente.
Quando finalmente entramos todos dentro do ônibus, o som que se ouvia era de choro. Algumas mulheres falaram que no desespero jogaram tudo que tinham dentro das bolsas no chão, dando tudo que tinham em dinheiro. Uma menina disse que os assaltantes recusaram a nota dela de 20 reais. Folgados... Quanto a mim, não perdi nem mesmo minhas moedinhas, mas o desespero foi grande. Recomendamos ao motorista que deixasse as luzes acesas por pelo menos meia-hora enquanto nos tranquilizávamos, e assim se fez.
Seguimos viagem, e logo mais à frente encontramos um posto da PRF. O motorista falou sobre o assalto e, se não me engano, a polícia já estava até sabendo, mas nada fizeram. Eu devia ter dito que eram estudantes que estavam bloqueando a estrada, a polícia iria pra lá com gosto de gás, gás de pimenta...
Em Senhor do Bonfim, fomos até a delegacia e o motorista, visivelmente revoltado, foi prestar queixa, junto com ele foram mais 3 passageiros que haviam perdido outras coisas além de dinheiro, como documentos. Demoraram mais de meia-hora. Então seguimos viagem novamente. Eu tinha levado um celular de mangueira e estava pensando em tomá-lo, pra aliviar a tensão, mas desisti da idéia. Só chegamos em Feira de Santana lá pelas 11 da manhã, e de lá ainda tive de esperar mais pra pegar outro ônibus, desta vez para Santo Amaro. A fome já apertava e comi algo lá pela rodoviária, ainda abatido pelo cansaço, pelo sono e pela própria tensão do assalto. Mas depois correu tudo bem e cheguei em Santo Amaro. Os dias que passei lá eu conto em outro texto, ou não, caso a fadiga não deixe.